terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Movimentos ocupam Shopping Higienópolis para denunciar racismo no Estado


Organizações fazem parte do Comitê Contra o Genocídio da Juventude Negra
13/02/2012
Segundo os manifestantes, ocupação teve o objetivo de alertar para os
inúmeros casos de violência em São Paulo - Foto: Fernando Knup
Grupos do movimento negro, GLBTs, de direitos humanos, estudantis e culturais participaram da ocupação simbólica de um dos halls do Shopping Higienópolis, em São Paulo, por volta das 16h deste sábado (11). Segundo os manifestantes, a ocupação se fez no sentido de denunciar as recorrentes práticas de racismo institucional por parte do Estado brasileiro e chamar atenção para os inúmeros casos recentes de racismo no estado de São Paulo. O local foi escolhido pelo episódio da rejeição da instalação de uma estação de metrô no Higienópolis pela associação de moradores do bairro, em 2011.
Concentrados no largo de Santa Cecília, região central da capital, os cerca de 300 manifestantes se dirigiram em marcha até o Shopping. Com cantos alusivos à cultura negra e ao quilombo de Palmares, o grupo entrou pacificamente atraindo a atenção dos clientes que se dividiam em sorrisos de surpresa e narizes torcidos. Apesar da presença dos seguranças, que tentaram impedir a manifestação, e da chegada da Polícia Militar, que entrou no shopping para ‘acompanhar o ato’, não houve tumultos.
O ato foi organizado pelo Comitê Contra o Genocídio da Juventude Negra, formado por 27 entidades que vão desde grupos culturais e estudantis a sindicatos e mandatos partidários. Segundo Douglas Belchior, membro da Uneafro, o protesto foi a maneira encontrada para denunciar a dicotomia histórica mantida no país “Existe uma parte do povo no Brasil que é privilegiada pela forma com que a sociedade se organiza. Essas poucas pessoas têm acesso às riquezas de um país tão rico como o nosso, enquanto a maioria do povo brasileiro é condenado à superexploração, como por exemplo os trabalhadores das lojas desse shopping. Nós nos solidarizamos com essas pessoas“, afirmou.  Uma das bandeiras de luta do comitê trata da reparação histórica aos afrodescendentes.
Entre cantos e falas de representantes das entidades, a estudante e representante do Núcleo de Consciência Negra na USP Haydeé Fiorino leu o manifesto do grupo. Em um dos trechos, o texto afirma que "o Brasil é um país onde cabelo liso é padrão estético e corporativo; pobreza é crime e problemas que deveriam ser tratados por médicos viram caso de polícia. Este é um país onde ser negro e pobre é passível de punição, prisão e morte. No entanto, nada acontece com o colégio que discriminou nem com o restaurante que humilhou nem com o delegado que prendeu sem provas ou com o PM que atacou o estudante.” O Núcleo vem sofrendo pressão da reitoria da USP para deixar o prédio que ocupa hoje na universidade.
Após quase uma hora os manifestantes saíram tranquilamente. Durante a saída, foram prometidos outros atos.
Fernando Knup de São Paulo (SP) Brasil de Fato

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Marcha Contra o RACISMO, a Higienização Sócio Racial e a Criminalização da Pobreza

Concentração às 14h
Praça do Metro Santa Cecília - SP

O Estado, racista, oprime a todos nós!
“Quantas guerras vou ter que vencer por um pouco de paz?”
Basta de racismo, “higienização” sócio-racial e criminalização da pobreza
Passados 124 anos da abolição da escravidão, a população negra continua sendo o alvo preferencial da violência do Estado e das elites brasileiras. Seja através das ações diretas do Estado, como a Polícia Militar, ou no cotidiano das relações sociais, o racismo segue como importante dinamizador da opressão e da barbárie no Brasil.


No curto período de 45 dias, em plena “virada de ano”, assistimos situações que não deixam dúvidas de que o racismo permeia e motiva ações de violência e desrespeitos à dignidade e aos direitos humanos da população.


Racismo em todos os cantos


No início de dezembro, todos souberam do caso de Ester Elisa da Silva Cesário, negra, de 19 anos, que trabalhava como estagiária no colégio Internacional Anhembi Morumbi a
té que sua chefe exigiu que ela alisasse o cabelo para permanecer no emprego. Pouco depois, um menino etíope, de seis anos, foi jogado para fora do restaurante Nonno Paolo ao ser “confundido” com uma criança de rua.


Já no início do ano, soubemos da lamentável história do jovem negro Michel Silveira, que foi preso de forma irregular, ficando dois meses encarcerado, acusado injustamente por um assalto, apesar de várias testemunhas comprovarem que, na hora do roubo, ele estava no seu local de trabalho.


No mesmo período, as imagens de outro jovem negro, Nicolas Barretos, sendo agredido por um policial militar racista, dentro da USP, ganharam as redes sociais expondo algo que há se sabe: a USP quer se manter como um espaço da elite (ou seja, branco). E para tal, inclusive, esta ameaçando de fechamento a principal entidade de combate ao racismo no seu interior: o Núcleo de Consciência Negra.




Cracolândia, Moinho, Pinheirinho: o racismo também esteve lá!

Enquanto isso, no centro da cidade, a Favela do Moinho “pegou fogo” e as 500 famílias foram jogadas a sua própria sorte. E bem perto dali, na “Cracolândia”, a prefeitura e o governo do Estado, ao invés de tratarem a dependência química como um problema social e de saúde, investiram na repressão e em sucessivos ataques, causando apenas, como eles próprios denominaram a operação, “dor e sofrimento”.



A mesma dor e sofrimento que foram enfrentados no Pinheirinho, em São José dos Campos, onde, depois de 8 anos de luta, seis mil pessoas viram seus sonhos e casas destruídos, pelo governador Alckmin e o prefeito da cidade apenas para beneficiar um corrupto confesso, Naji Nahas.


E não há dúvidas que o racismo também marcou estas histórias, como sempre, lado a lado com a exploração econômica e a marginalização social. Afinal, não há nenhuma dúvida sobre a “cor” da maioria dos homens e mulheres que viviam nestas comunidades: negros e negras.


Estado racista e opressor!


Lamentavelmente, o Brasil é um país onde cabelo liso é padrão estético e corporativo; pobreza é crime e problemas que deveriam ser tratados por médicos viram caso “de polícia”. Este é um país onde ser negro e pobre é passível de “punição”, prisão e morte. No entanto, nada acontece com o colégio que discriminou


nem com o restaurante que humilhou nem com o delegado que prendeu sem provas ou com o PM que atacou o estudante. Muito menos com quem ateou fogo ao Moinho, decidiu “dedetizar a luz”, tratando gente como ratos, ou esteve à frente da tropa que invadiu o Pinheirinho.


Nada acontece, porque a impunidade, a “justiça” e as autoridades do Estado estão do lado destes “senhores”, para garantir seus privilégios. O racismo brasileiro é isso: assassinato direto e indireto, maus tratos, falta de políticas públicas, desleixo, naturalização da desgraça, criminalização da pobreza.


Em todos os casos, em uma ponta, oprimindo e explorando, estão o Estado, os governos, a polícia, o judiciário, os interesses dos ricos e a manutenção de normas e padrões contrários ao povo. Na outra ponta, estão os pobres, a classe trabalhadora, as estagiárias, os agentes de saúde, os estudantes, os dependentes químicos, os sem teto, as mulheres vitimadas pelo machismo ou gays, lésbicas, bissexuais e travestis (LGBT) que sofrem com a homofobia.


Uma multidão de explorados e oprimidos que, num país como nosso, é inegavelmente, de maioria negra.


Basta!


Apesar de muitos acreditarem na farsa de que vivemos numa democracia racial, há 512 anos o racismo tem papel determinante na estrutura de dominação e na prática da opressão no Brasil. É hora de reconhecer isto e ir à luta.


É hora de nos organizarmos, juntarmos forças com os demais setores oprimidos e explorados, denunciarmos toda e qualquer atitude discriminatória e, sobretudo combatermos o racismo.


Em décadas de luta, fomos capazes de aprovar leis, criar organismos institucionais e produzir pesquisas e estudos que deslegitimam o racismo e punem sua prática. Mas, isto, contudo, ainda não foi suficiente para que negras e negros conquistem os direitos e a liberdade que merecem.


Os ataques recentes são provas de que racismo permanece ativo e operante. Por isso, exigimos que o Estado brasileiro (em todos os seus níveis, municipal, estadual e federal) e todos os que sejam coniventes e cúmplices destas práticas sejam responsabilizados e punidos!


"O Racismo está aqui! Basta!!!


Nossas bandeiras:


Contra o genocídio da juventude negra.

Contra a homofobia.

Contra o machismo.

Contra o encarceramento em massa.

Contra a violência policial.

Contra as desapropriações no pinheirinho e em outros locais.



Organização: Comitê Contra o genocídio da população Negra - SP 
  

Assinam:
Amparar (Assoc. de Amigos e Familiares de Presos/as)
Anastácia Livre
Centro Acadêmico de Ciências Sociais Florestan Fernandes (Uninove)
Centro de Resistência Negra
Círculo Palmarino
Coletivo AnarcoPunk SP
Coletivo Anti-Homofobia
CONEN
Consulta Popular
Empregafro
Força Ativa
Fórum Popular de Saúde
FORUM DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DA SÉ
Juventude Socialista
Levante Popular da Juventude
Mães de Maio
Movimento Negro Unificado (MNU),
Movimento Quilombo Raça e Classe,
MST
Núcleo de Consciência Negra na USP
Sarau da Brasa
Setorial LGBT da CSP-Conlutas
Sujeito Coletivo – USP
Tribunal Popular
UNEAFRO
UNEGRO
MH2O DO BRASIL-SP